Há quem cultive amor na solidão e quem acredite
que felicidade só existe compartilhada
eu já dei boa noite pra televisão fiz serenata
pra cachorrada e batizei cafeteira de 110 volts com nome de feminista
existencialista
mas tive pena ao ver a costureira desamada de
minha prima Juvena a noiva interiorana engravidada
o nome dela a costureira é Maria e a vida inteira
fez vestidos de noiva enquanto em seu rosto o tempo cristalizava a
infelicidade da solidão.
um dia me fiz Noiva por etnografia e procurei
Maria meu estudo de caso
ela me mediu inteira: punho pescoço braço e
bacurinha e me disse maquinal que eu faria muito feliz o noivo que
não existia
voltei lá vezes mais e na quarta ou na terceira
Maria me vestiu num emaranhado de tecido alvo anilado engomado e
garboso
nesse dia Maria me espetou um alfinete na prova me
transmitindo seu vírus do sem-par
entendi na hora a infecção que tomava meu sangue e meu destino e louca de tédio ganhei a rua empacotada num vestido de
noiva semi acabado sob um sol a pino que me deixava com consistência de assombração
desci sonâmbula para a boca da ponte onde pude
ver aqueles rostos ribeirinhos que com meu rosto já teve alguma
parecença que perdi na inexpressividade da cidade grande no
cientificismo e no excesso de maquiagem
certa de que só seria e que sendo só jamais
encontraria grandes pazes tomei o acesso pro rio me entreguei às
águas me abracei à morte tal e qual à personagem a quem sempre questionei a força da feminilidade
Já agora não sinto medo de ser só
porque só agora não sinto porque só agora não sou
porque só agora não sinto porque só agora não sou
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