quarta-feira, 3 de julho de 2013

é

Tenho um coração e todo sentimento do mundo.
Quero ir pras minas do norte na missão de Paschoal Carlos Magno
mas logo
amo  e refaço num átimo meu planejamento familiar
ao passo que me perpassa outro desejo
e me vejo só
salgando o mar com minhas lágrimas azedas
Penso na boemia também
e nas linhas de trem que fita a minha câmera subjetiva
e naquela noivinha com vestido de toalha de mesa
que fujo com ela num ônibus escolar amarelo
Dividir meu coração na ventoinha do seu liquidificador
enquanto raimundo fagner chora sua jura secreta
talvez seja a solução mas nunca uma rima...
Coração é vasto
dizem que também vaso de uma terra em que nunca ninguém pisou
nem mesmo eu sei o que sinto
até mesmo eu desconheço a matéria do desejo que é meu
E que sabor teria a polpa deliciosíssima de todo o meu nada?
Será que doce como esse meu tédio?
Depois, o silêncio
e depois de depois, as palavras que poupei,
se unindo pra imprimir a imagem que melhor te transponha:
- ninguém,
nem mesmo um rato que se refestela num prato de leite cujo dono é um gato que lá vem
foi tão feliz quanto nós!

é paixão de Cristo no anonimato,

é amar alguém que não tenha entrado na história.

sábado, 7 de abril de 2012

fort/da

Eu te amo com força e certeza.
sem superego

com a loucura de quem se joga e não se sabe pra onde
quero te amar mansinho e com a respiração entrecortada
depois sentir seu suor secando na minha pele 
enquanto adivinho as formas animadas que a fumaça de seu cigarro desenha no espaço aéreo de brasília seca.

te amo com um nó nessa jugular
sem esquina enquanto leio ana cristina
e me preparo para te ler.
te amo simplesmente 
sem esperar por destinos
sem me lembrar muito bem o que nos reservam os nossos futuros passados

sorrindo sozinho do seu pescoço marcado
das suas pernas bambas 
busco uma causa e um verso de efeito
mas fico reticente 
começo no fim
findo no meio
te provo no desacordo de conceitos
te amo pela paixão sem compaixão de nós

E no fim do momento nosso 
(sempre-tão-curtíssimo) 
fitando duro as bestas apocalípticas
-desenhadas na avenida pela fumaça da sua velha baldeação amarelo gema de ovo de granja- 
fico remoendo toda e qualquer apartação
e chorando os amores que horas, hordas e muros sem furos dividiram...

terça-feira, 6 de março de 2012

Contracorrespondência


Meu bem, meu zen, meu mal
ultraprecisança das coisas menos descansosas,
de viver nas dedicações totais toda paixão por toda coisa
Ando no querer de todo sofrimento de véspera sem previsão de acabar
ando assim de próximo no golzim
e sonhando com terra de formigueiro


Depois dos campinhos de terra sertaneja batida
contornados por lobeira
ficava nessa ânsia do homem poderoso
nesse tesão de vaca por um coração novo cheirando pólvora
E quando em mim esse dia não chegou
não esperei mais por destinos


por todo esse desesperar por qualquer egogonia, eu juro
juro não  indiferenciar nada com a implacabilidade das fofoqueiras
e inscrever nos livros e produtos de primeira ordem qualquer coisa sobre meu polo norte
por meu edifício erguido naquela margem esquerda, eu juro
juro me dedicar a empresas naquelas bandas verdejantes de lá
e encher um novo bang-bang de cortesãs neo-zelandesas com meias novas mas defiadas


tudo porque abusei desses álbuns incompletos
e das mãos estendidas repletas de fraternidades e bilocas e maçãs...


Ponho agora debaixo do queixo um peito de aço
e entre as pernas levo nenhum vestígio dessa força bruta
ponho fora nessa megaemorrogia metafisiológica claritelúrica todo risinho sem querer
e toda essa amabilíssima vontade de agradar o demérito


tudo porque tenho parente pra não conversar
e só um braço pesado de cada lado dessa minha simetria bilateral
e muita timidez disfarçada em gaiatice mal improvisada e incontinência verbal
e perna pouco peluda que corre corre, pula pouco e dança mal


Tudo isso porque mal-me-quero
e quero bem pra minha personagem um macacão novo das casas amaral
e pra ela um conflito sem happy end


- E se eu te disser que o fim de Casablanca não me faz mais nem cócega?
Sim, superei
nem lembro a cor do avião

Me espere na balburdia dessa biblioteca em chamas 
te encontro ainda que de carona com santoântonio,
 no seu possante milagre do estar num só tempo em dois lugares


Por ti e pelo desejo que me causa a flor da hora
sem mais e atenciosamente,

sua mais banal atividade.  


 


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Quero ser margem esquerda,
baixo corpóreo e lado b
Ser assado ou não ser.

sábado, 13 de agosto de 2011

Caderno de Poesia - Unaí, 1º de Abril de 1996 - V



Há quem cultive amor na solidão e quem acredite que felicidade só existe compartilhada
eu já dei boa noite pra televisão fiz serenata pra cachorrada e batizei cafeteira de 110 volts com nome de feminista existencialista
mas tive pena ao ver a costureira desamada de minha prima Juvena a noiva interiorana engravidada
o nome dela a costureira é Maria e a vida inteira fez vestidos de noiva enquanto em seu rosto o tempo cristalizava a infelicidade da solidão.
um dia me fiz Noiva por etnografia e procurei Maria meu estudo de caso
ela me mediu inteira: punho pescoço braço e bacurinha e me disse maquinal que eu faria muito feliz o noivo que não existia
voltei lá vezes mais e na quarta ou na terceira Maria me vestiu num emaranhado de tecido alvo anilado engomado e garboso 
nesse dia Maria me espetou um alfinete na prova me transmitindo seu vírus do sem-par
entendi na hora a infecção que tomava meu sangue e meu destino e louca de tédio ganhei a rua empacotada num vestido de noiva semi acabado sob um sol a pino que me deixava com consistência de assombração
desci sonâmbula para a boca da ponte onde pude ver aqueles rostos ribeirinhos que com meu rosto já teve alguma parecença que perdi na inexpressividade da cidade grande no cientificismo e no excesso de maquiagem
certa de que só seria e que sendo só jamais encontraria grandes pazes tomei o acesso pro rio me entreguei às águas me abracei à morte tal e qual à personagem a quem sempre questionei a força da feminilidade
Já agora não sinto medo de ser só
porque só agora não sinto porque só agora não sou

Caderno de Poesia - Unaí, 1º de Abril de 2001

Na esquina o vento soprava, mas quente...
Fiquei por horas sentado no alpendre esperando que com o vento a folha da samambaia me viesse roçar a nuca.
Teve hora que olhei para rua, vi a noite inteira e clara.
E vi Reginaldo debaixo de um poste
 com a lâmpada apagada pela crise energética.
Era menino ainda,
a rodar o braço tendo entre os dedos um bombril em chamas.
Aquele Reginaldo àquela altura já era ruim,
sempre foi o que é, é bem verdade,
já tinha essa obsessão terrível pelas meninas mulheres,
e compunhas cartas de amor escritas em jejum que escorriam sangue.   

Coincidência ou não,
vi abaixo, vindo comendo feliz da venda, Vanny,
linda, com um colado short cor de pele,
mas não da sua pele,
marcando as celulites e evidenciando o balanço das suas carnes gordas,
o ritmo das burlesco das curvas absurdas.
A presença dela toda brilhava feito inox,
roubando da lua a luz que a lua roubou do sol...
Como dói essa lembrança!  
Se tivesse herdado da minha mãe as faculdades  que ela herdou da minha vó,
eu diria:
- Vanny - e olhando de novo pro menino  e o bombril -
mulher, se contenha, contados estão os dias seus!

Caderno de Poesia - Unaí, 1º de Abril de 1996 - II

Tema: O Retorno do Jedi

O bom filho a casa torna...
Qualquer dia ela retorna
e, com cara de tacho, sentará à cabeceira de dona Vicentina
e antes mesmo de dizer "voltei!" perguntará:
- novo, esse lençol?